Hold My Hand

Capitulo 4 - Mais uma chance


_____________________________________________

Mamãe havia conversado com Nezumi durante algum tempo, as memórias daquela época foram trazidas a tona novamente e eu fiz o máximo para parecer indiferente, demonstrar que tudo aquilo para mim era passado.

Logo a loja foi fechada, mamãe insistiu até que Nezumi aceitasse ficar para o almoço, e mesmo contrariado, acredito que ele aceitou apenas para manter o cavalheirismo.

– Filho, fique aqui e termine de arrumar tudo, vou preparar a comida, tudo bem?

–Sim mamãe, pode deixar.-Respondi forçando o sorriso.

 

Continuei ajeitando tudo até mamãe sair de vista, depois, deixei tudo sobre a mesa, cruzei os braços e o encarei.

–O que você veio fazer aqui afinal de contas?-Perguntei um tanto nervoso, vendo-o me olhar fixamente.

–Precisamos conversar, Shion.

–Não, não temos nada para conversar.- Mesmo não admitindo, falar aquilo doía...

–Temos, e sabe muito bem disso, pare de ser tão cabeça dura, no fundo sei que quer respostas.

–Eu parei de procurar por respostas a um bom tempo.

–Se isso fosse realmente verdade conseguiria me olhar nos olhos, vossa majestade.- Zombou segurando-me pelo braço.- Precisamos conversar.

–Não estamos em hora, muito menos em local adequado.-Sussurrei vendo mamãe passar no corredor a nossa frente.

–Depois do almoço, na mesma área onde nos encontramos antes, está bom assim?

   Contrariado, acenei um sim com a cabeça. Acho que já estava na hora de saber a resposta para tudo, não?
    Mamãe nos chamou para a sala, tranquei a porta da loja fechando a persiana da vitrine e fomos para lá.

–Sentem-se meninos, já está quase tudo pronto.

 

Sentei-me no lugar de sempre, terminando de ajeitar o resto dos pratos e talheres sob a mesa.

Nezumi parecia um tanto sem jeito naquela situação, mas ainda sim não deixava de me encarar.

   Poucos minutos depois a refeição foi servida, mamãe continuava conversando com Nezumi como se o conhecesse a séculos e fossem íntimos, já eu, esforçava-me ao máximo para não parecer aborrecido com a situação, e muito menos ansioso pelo que havíamos combinado.

   O almoço passou rápido, mamãe serviu uma torta e por fim um chá.

–Nezumi, por que nunca apareceu por aqui antes? Lembro-me que na época da queda do muro você foi embora antes que eu pudesse agradecer...

   A pergunta parecia ter pegado o moreno de surpresa. Nezumi desviou o olhar e em segundos formulou uma resposta nada convincente.

– Eu me mantive todo esse tempo muito ocupado, havia perdido tudo, precisei me restabelecer em outra cidade, em outro lugar até que tudo se normalizasse. Só consegui ter condições de voltar agora. Queria saber se Shion havia ficado bem.

–Eu entendo... E pretende ficar por aqui?

–Sim, eu voltei decido a reconquistar o que perdi sem perceber.

   Sem querer, senti minha face esquentar com o comentário, Nezumi respondeu aquela pergunta encarando-me no fundo dos olhos e eu acho que sabia... Eu sentia que aquilo tinha haver comigo.

–Sabe... Shion custou a acostumar com sua ausência.

–Mamãe!-Repreendi surpreso, como ela sabia se eu nunca havia demonstrado?!

–É a pura verdade Shion, você acha que eu não percebia mas algo te faltava depois que voltou, você sempre me dizia que sabia que Nezumi estava bem, e que foi melhor assim mas eu sentia uma ponta de angustia na sua voz.

–Mãe...

–Mãe é mãe, meu filho.- Falou sorrindo, enquanto beijava meu rosto.- Eu sinto quando você não está tão bem assim, por mais que você saiba esconder.

   Corado, desviei o olhar para um ponto qualquer, ela nunca havia me dito aquilo, mas pareceu segura em falar sobre isso com Nezumi.

O moreno me encarava fixamente, me deixando ainda mais desconcertado. Aquelas coisas que mamãe falou era tudo que eu não precisava no momento.

–E quanto a você Nezumi.- Mamãe falou beijando-lhe o rosto.- Quero que saiba que mesmo que tenhamos conversado pouco, você é uma das pessoas que eu mais tenho a agradecer. Não se afaste novamente, sempre me visite, está bem?

   Nezumi não respondeu, balançou a cabeça em um sim colocando uma das mãos sobre o local do beijo.

–O que foi? -Mamãe perguntou o observando.

–Nada, não é nada...

    Minha mãe pareceu desconfiar, mas logo desfez aquele olhar, sorrindo gentilmente e avisando que retiraria a mesa.

    Nezumi despediu-se, mamãe o levou até a porta enquanto eu terminava de guardar a louça.
Eu sabia que daqui algum tempo o veria novamente, e aquela seria a hora de saber tudo.

–Filho, antes de arrumarmos tudo por aqui eu preciso ir até Inukashi e depois em Rikiga, fiquei de levar algumas coisas para eles. O teatro combinamos de deixar para depois já que não se sente muito bem, e quanto a arrumação da casa fazemos quando eu voltar, sim?

–Tudo bem mamãe.

– Caso saia não esqueça de trancar a casa.-Falou enquanto pegava as chaves. Beijou minha testa e acariciou meu rosto.- Fiquei muito feliz em ver Nezumi.

–Fico feliz mamãe... Mas não precisava ter dito aquelas coisas a ele, nunca havia dito nem para mim- Falei um pouco sem jeito vendo-a me olhar do mesmo jeito terno de sempre.

–Por que sei o quanto ele significa para você... E também sei, o quanto você significa para ele.

–Mamãe...

–Sabe filho, as vezes nós queremos negar o sentimos... Tentamos reprimir nossa dor mas tudo que conseguimos fazer é piorar a situação. Eu falei aquilo, por que acredito que vocês dois tem muito para conversar.- Encarei o chão ouvindo suas palavras.- Eu te amo filho.

–Também te amo mamãe.

–Bom, eu vou indo, sim? Até depois.

    Minha mãe saiu pela perta, deixando-me para trás um pouco mais tranquilo... Por assim dizer. No fundo eu sabia que ela estava certa. Já estava na hora de resolver tudo aquilo.

    Subi para o quarto colocando uma roupa qualquer, tranquei tudo e segui para o local onde havíamos combinado.
    Durante todo o caminho, eu não parava de pensar na ultima vez que havíamos nos visto...

    Logo depois do muro cair Nezumi não ficou muito tempo perto de mim, retirou-se logo indo embora sem dizer nada.

O chamei... Não queria vê-lo partindo, não aguentaria...

   Tudo que ele fez foi se aproximar e me dar um beijo... Dizendo que eu ficaria bem...
    Aquele beijo era de despedida, mas eu sabia que nos reencontraríamos.

    Só queria saber em que momento perdi a esperança de revê-lo depois daquele dia...

–Tio Shion!- Ouvi uma voz infantil me arrancar de meus devaneios.

–Oh, Olá Karan, tudo bem?- Perguntei a garota ajoelhando a sua frente.

–Bem, e você?

–Bem também, está passeando?

–Sim, mamãe está ali.- Disse apontando para uma mulher ao longe. Acenei de leve levantando-me.- E você onde vai?

–Eu vou ver uma pessoa... Alguém que não vejo a muito tempo.

–Que bom!-Disse feliz.- Boa sorte tio Shion!

–Obrigado Karan, vou precisar- Respondi afagando seus cabelos.

–Karan, venha!

–Mamãe está chamando, até depois!

–até!- Acenei retomando meu caminho.

    Karan estava crescida... Mudou muito desde aquela época, infelizmente o resto da família havia se perdido no dia em que o Distrito Oeste fora atacado, mas ela e a mãe até que souberam se recuperar bem.

    Dobrei a última esquina do centro, descendo por uma rua não muito movimentada, andei mais um pouco e finalmente atravessei os escombros do muro. Atingi a grama verde, ma brisa fresca soprou... Coloquei as mãos nos bolsos e segui mais uns passos até uma grande rocha próximo a algumas árvores.

–Eu não esperava que fosse vir- Ouvi a voz rouca soar quando sentei-me ao lado da figura morena.

–Já está na hora de ter respostas...-Respondi sem encara-lo, percebendo o olhar pesado sobre mim.

–------------------------------------------------------------------------------------

    Eu não esperava que Shion fosse vir... Se quer achei que me escutaria em alguma tentativa minha desde que vi sua primeira reação, mas acho que no fundo... Bem lá no fundo, ele, assim como eu não queria admitir que precisava de respostas...

    Por alguns minutos permanecemos em silêncio, Shion encarava o nada, enquanto eu o observava as vezes pelo canto dos olhos.

– Encontrou sua mãe rápido depois qu- Comecei a falar quebrando o clima pesado.

–Sim, logo depois. Todos os sobreviventes do Distrito Oeste foram para o centro da No.6 e os da No.6 vieram para a área do Distrito Oeste.- Respondeu me interrompendo.- Todos se ajudaram no que podiam...

–Entendo...E aquele bebê?

–Bebê?- Perguntou confuso.- Ah, me foi entregue pelo mesmo cão logo depois que você se foi, eu e mamãe cuidamos dele por alguns dias, depois achamos melhor que ele fosse para a adoção.

–Hum...- E como você passou todos esses anos?- A pergunta pareceu pegá-lo de surpresa, Shion me encarou por um tempo, olhando para o chão depois.

–Bem.- Senti a mentira apenas na forma como ele falou.

–Mentiroso.

–Não estou menti-

–Está.- Retruquei aproximando-me mais dele, vendo seu rosto corar.-Sei que está mentindo... Por que esse período também não foi fácil para mim.

    Shion pareceu não acreditar no que eu havia falado, piscou várias vezes e se manteve calado, parecendo tentar assimilar minhas palavras.

– Quando voltou?- Perguntou sem me olhar, abraçando os joelhos como uma criança.

– Quatro dias.

–E como me achou?

–Inukashi.

–Inukashi?- Shion pensou um pouco, suspirou e balançou a cabeça em negação-Agora entendo...

–Como assim?

–Ela veio me dizer para ser forte... o dia que nos encontramos...

–Entendo... Provavelmente foi no dia seguinte ao dia que falei com ela.

Flash Back on.-----------

–Vejo que você continua a mesma, não?- Perguntei debochado

–O que quer aqui?

–Não vim por sua causa, quero apenas saber onde está Shion.

–Ué, você, o prodígio Nezumi não sabe?

–Ora, pare de debochar, Inukashi.

–Ele mora com a mãe, no mesmo lugar de antigamente. Mas...

–"Mas", o quê?

–Tem certeza que quer procura-lo?- A pergunta fez-me encara-la com duvida.- As vezes ele pode tê-lo esquecido e seguido com a vida... Formado até... Uma família quem sabe.

    As palavras dela me atingiram de uma maneira que nem eu mesmo esperava... Sentia como se facas me cortassem lentamente o peito. Será que era realmente possível?... Será que aquilo realmente havia acontecido?
    O som do riso estridente chamou minha atenção.

–Ah, pobre rato indefeso. Você não diferencia mais a verdade de um blefe?... Aquele garoto sem noção ainda te desequilibra?... Que fraco.
 

Antes que ela pudesse terminar seu deboche a ataquei, colocando um canivete em seu pescoço, seus cães de guarda rosnavam, mas temendo a morte de sua dona recuavam o ataque.

–O endereço, Inukashi...- Sibilei apertando a lamina contra a pele.

–Que ciume, não?- Rosnei em resposta, fazendo uma pequena gota de sangue correr sobre a prata.

Flash back off.----------

–Nezumi...- A voz baixa me tirou de meus pensamentos.

–Hm?

–Por que você voltou... Afinal? Por que só agora... Por que...- Os olhos vermelhos pareciam marejados, eu conhecia aquele rosto, Shion lutava para não chorar.- Por que depois de tanto tempo?

–Por que quando eu fui embora aquilo me pareceu o melhor... Você ficaria bem e eu sabia disso, seria bom que ficássemos longe, eu não queria que você mudasse... Não queria que se tornasse alguém ruim, frio...- Falei um pouco sem pensar. Levantei-me ficando a sua frente.- Mas depois de um tempo eu comecei a perceber que nem sempre o que parece ser melhor é o certo...

    Uma lágrima caiu. Shion tentou esconde-la, mas antes que pudesse, segurei seu queixo o olhando nos olhos, ele precisava me ouvir até o fim.

– Aprendi isso quando me vi sem você.- Shion desviou o olhar, mas continuei o segurando, fazendo com que me olhasse.- Aprendi que... Você é minha maior fraqueza, mas também minha única fonte de força.- Era até mesmo difícil admitir aquilo, mas era a verdade...

  Shion me olhava já não segurando mais o choro, no final, apensar de todo mal que eu havia causado... A essência dele era a mesma de antes... O mesmo jeito sentimental... Meigo.

–Shion.- O chamei estendendo uma das mãos o puxando para que levantasse.- Me desculpe.

 

O sorriso simples e o leve acenar com a cabeça me deram a certeza de que eu tinha mais uma chance...
 

A chance de não abandona-lo novamente.

Feita por Sohari

Muito Obrigado Sohy-chan..

Boa leitura a todos.