quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Hold My Hand (Nezumi x Shion - No.6)


capitulo 1 - Você ficará bem sem mim... Né?

Capitulo : 
–-

New number 6, dois anos após a queda dos muros.

  O sol havia raiado a pouco mais de uma hora, a brisa fraca balançava as folhas das árvores com graça, formando uma canção tão tranquila quanto as ruas do centro naquele horário.

No horizonte era possivel ver os restos do antigo muro, mas aquilo parecia não ter mais importância para ninguém. As pessoas daquela cidade eram as mesmas de antes, exceto é claro pelo fato de estarem lutando a todo custo para reerguer a cidade. O distrito Oeste, antes inexistente para os viventes aqui, havia agregado-se a nova cidade, sem preconceitos, sem um governo para dizer "fora rebeldes".
Tudo corria bem para todos, tudo parecia novo e reluzente... Menos para mim.

  Joguei o pequeno copo de café na lixeira encostando-me na grade de proteção do lago. Levei uma das mãos ao rosto, passando os dedos sobre a marca vermelha permanente causada pela abelha parasita a alguns anos atrás.


–Acho que era para eu ter morrido- Falei comigo mesmo puxando uma mecha de meu cabelo observando sua cor branca.- Se não fosse por ele...- Suspirei cansado colocando as mãos no bolso da calça, voltando a caminhar.


  "Se não fosse por ele..." Shion?! De novo com esses pensamentos?


 As marcas daquele dia estavam em meu corpo até hoje, e com certeza permaneceriam para sempre...
  Um dia, um alguém me disse para carregar isso como medalhas de honra, afinal eu estava vivo.

 Que bela medalha, não? Certo, eu havia dito que queria viver e que não me arrependia disso mas... Será que no fim das contas esse meu prêmio foi tão grande?


 Acho que no fim... Eu só perdi o que mais aprendi a amar.


 Eu acreditava cegamente naquela cidade antes de tudo aquilo acontecer, era um alienado, que trabalhava e servia sem reclamar ou questionar. Incrível como no primeiro deslize, como no primeiro pensar se tudo aquilo estava mesmo certo fui descartado como lixo.

 Era difícil encarar a verdade, no final das contas descobri coisas que não gostaria de ter descoberto, vi cenas que nunca imaginaria ver e que até hoje embrulham meu estômago...

 Acho que no fundo, eu gostaria de nunca ter questionado nada, de nunca ter passado por nada do que passei, mas fazer o que, não é? No final, tudo que me resta são as lembranças, meu único verdadeiro prêmio foi poder me unir a minha mãe de novo.

 Respirei fundo, balancei a cabeça com força desistindo de pensar em tudo aquilo. Era inútil não?


 Apressei o passo ao olhar o relógio, estava atrasado para meu serviço.
 Caminhei mais algumas ruas até chegar a um velho prédio, lá havia sido construida uma biblioteca onde eu ajudava com leitura para as crianças e também com a arrumação do local.


–Bom dia Rikiga-san.-Falei fechando a porta atrás de mim, vendo que o mais velho já havia chegado.


–Oh! Bom dia Shion, chegou bem na hora.


 Suspirei olhando a bagunça de algumas prateleiras que havia arrumado no dia anterior.


–Inukashi passou por aqui de novo, não?-Perguntei recolhendo os livros do chão começando a ordena-los por nome. Todo inicio de mês isso acontecia, acho que sem querer eu já chegava preparado.


–Bingo. Hoje quando abri a biblioteca ela apareceu para me entregar o pagamento de uns trabalhinhos que eu havia pedido e então um dos cães viu um ra-


–Certo, certo - Falei cansado subindo os degraus da pequena escada para alcançar as prateleiras mais altas.- Eu acho que já me habituei- Forcei um sorriso, colocando os últimos livro na prateleira.


–Ah, eu ia me esquecendo, Inukashi precisa de ajuda com os cães, pediu para que eu te avisasse.


–Sim, agradeço o recado.-Sorri, mas dessa vez de satisfação. Cuidar dos cães realmente me agradava, eram os melhores momentos que eu podia ter, fora é claro, enquanto contava histórias para as crianças da cidade.Embora eu fingisse muito bem, ou ao menos tentasse isso, eu já não era o mesmo de antes, algo havia mudado... Eu estava mais frio, mais triste...

Acho melhor me distanciar um pouco dos meus sentimentos. Era isso que eu pensava.


  Desci da pequena escada abrindo uma pequena sala dos fundos, arrumei as almofadas e me pus a escolher um bom livro para as crianças naquela manhã.

  Depois de optar por vinte mil léguas submarinas, sentei-me em uma cadeira antiga olhando pela janela.
  As ruas já estavam mais agitadas, e todos pareciam se ocupar com seus devidos afazeres.


–Tio Shion podemos entrar? -Perguntou uma garotinha animada junto de mais algumas crianças.


–Claro que sim, entrem. Tenho uma história muito legal para vocês hoje.-Falei sorrindo, sentando-me junto delas, mais algumas crianças chegaram e pude começar a ler.


  Os olhos brilhando... Os comentários engraçados, as ideias, a criatividade... Tudo aquilo me trazia uma sensação de aconchego... Uma sensação ótima.


Flash back on.


–E então gostaram?-Perguntei fechando o livro vendo as crianças falarem com felicidade que sim. - Que bom.-Ri ouvindo um barulho na porta. - Oh, Nezumi!-Chamei animado, vendo-o com cara de poucos amigos.
–De novo vocês aqui? Já não está na hora de irem para casa?- Perguntou rude fazendo as crianças se encolherem um pouco.
–Vão com cuidado, sim? -Disse os levando até a porta.
Nezumi deixou um pacote sobre a mesa e jogou-se no sofá.
–Podia ser menos rude, não?
–Que seja, só não transforme isso em uma creche.



Flash back off.

'Aquelas foram mesmo suas palavras?'- Pensei enquanto lia as últimas palavras do livro.Minha memória dos acontecimentos já não era tão clara.

  Fechei o livro ouvindo os comentários animados das crianças, sorri respondendo suas perguntas e logo depois me despedi, era quase hora do almoço.
  Arrumei tudo em seu devido lugar, avisei Rikiga e sai para um lanche. Fui até a padaria da minha mãe, almoçamos juntos como de costume, e depois de alguns minutos peguei os pães e doces que ela havia separado e tomei o rumo da cidade, indo até o novo local onde Inukashi havia se alojado.


  O lugar não era como o outro, era um pouco melhor arrumado mas ainda sim estava em um lugar da cidade não muito favorável. Fosse o que fosse, aquilo ali ainda era a No.6 . O preconceito ainda existia.


–Olá?-Chamei abrindo o portão grande de madeira.- Guarda cães?- Chamei novamente vendo alguns filhotinhos correrem em minha direção.-Olha só isso, mas que coisa fofa. - Comentei rindo enquanto me abaixava para agrada-los.


–É, pelo visto já conheceu os novos moradores.-Ouvi a voz conhecida soar um pouco a frente, Inukashi estava parada na porta da pensão.- Você chegou tarde- Reclamou com o tom durão de costume.


–Ora, deixe disso, sabe que tenho trabalho, vim o mais rápido que eu pude.-Retruquei pegando um dos filhotinhos no colo, enquanto todos os outros cães se aproximavam.-Para que precisa de mim? Quer que eu dê banho neles?


–Sim, você faz isso com mais facilidade que eu, admito que tentei a uns dois dias atrás mas tudo que consegui foi passar nervoso, eles não paravam quietos.


–Eu entendo, bom, me arrume as coisas de sempre por favor. -Pedi colocando o pequenino no chão. - Ah, minha mãe mandou isso para você.-Falei lhe estendendo um pacote com os pães e doces.


  Inukashi os pegou acenando uma espécie de "obrigado" com a cabeça, dividiu dois pães entre os cães e levou o resto para dentro, me pedindo para que esperasse ali.


  Sentei-me perto de um poço antigo acariciando alguns cães que vinham me agradar e só então pude perceber o motivo do chamado de Inukashi. Ao longe, havia um lugar com a terra remexida e uma pequena marcação de cruz do lado. Algum cão havia morrido... Inukashi era teimosa, ela não admitia precisar de meu apoio as vezes, sendo assim pedia-o em silêncio, da forma rude de sempre para que talvez não parecesse fraca ou algo assim. Éramos amigos, disso eu tinha certeza, mas era algo um pouco difícil dela aceitar em voz alta.


  Levantei-me ao vê-la voltando com as coisas que eu havia pedido, arrumei tudo perto do poço e enchi os baldes com água, enquanto ela sentava-se no alto de um galho de árvore observando a paisagem.
  Hora ou outra ela fazia suas perguntas rudes e sarcásticas, mas ainda sim era possível perceber que ela estava machucada.


–Inukashi- Chamei, ensaboando um dos cães. -O cão que você perdeu, com certeza ele está bem... É difícil mas você fez o melhor por ele.-Falei vendo-a tentar retrucar. Os olhos se tornaram tristes, ela desviou o olhar afirmando um sim com a cabeça.


  Eu havia conseguido ajudar.


  Sorri com o resultado do meu comentário e voltei a lavar os cães, sempre brincando com eles, me distraindo e dando tanto a ela quanto a mim, um momento de despreocupação e tranquilidade.


–Hey Shion...


–Sim?-Perguntei enxaguando o cão e começando a secá-lo.


–Você mudou.


  Aquilo havia me pegado de surpresa, parei por um momento logo voltando aos meus afazeres tentando disfarçar.


–Mudei?


–Sim, naquela época você era diferente do que é hoje. Antes você era otimista, altruísta e feliz o tempo inteiro, agora eu só te vejo assim as vezes. É culpa do rato... Não?


  Encarei um tempo o solo, engoli seco e por fim me dei por vencido. Acho que eu não havia conseguido esconder tão bem quanto eu pensava.


–Foi uma época difícil, são muitas recordações, só isso.-Tentei negar e desviar do assunto, não queria falar disso.


–Você conseguiu mudar o Nezumi, Shion. Você foi o único que fez aquele infeliz mudar.


–É,e no fim ele me fez mudar também-Retruquei até mesmo um pouco ríspido.


–Ele foi embora pelos motivos dele.


–Ele fugiu. Por acaso está tentando defender ele?-Perguntei a encarando.


–Fugiu? Você não disse que havia entendido os motivos dele? E não, eu não defenderia aquele lixo, só falei o que me disse a algum tempo.


–Oh, você presta atenção no que falo então- Fui sarcástico vendo-a rosnar. - Eu achei que havia sido um motivo nobre no começo, mas não, depois de muito remoer eu vi que ele só fugiu de tudo.


–Você disse que ele havia dito que você ficaria melhor sem ele por perto, que ele não queria tirar a sua pureza e inocência o transformando em um monstro. Não foi algo algo assim?


–Oh sim, claro! Eu não quero tirar a sua inocência, eu quero que continue sendo um ser puro e como você é hoje, e depois me faz escalar uma montanha de corpos! - Resmunguei secando o último cão.


–Hã?- Perguntou sem entender, acho que eu havia falado demais.


–Ah esqueça. Enfim, Nezumi apenas fugiu, depois de um tempo pensando em tudo, só me dou conta que aquilo tudo foi uma desculpa esfarrapada pra se afastar.


  Inukashi me encarou por algum momento,balançando a cabeça em negação em seguida. O que eu havia falado de errado afinal de contas?


–O quê?!-Indaguei gesticulando, jogando a esponja dentro do balde já vazio.


  Inukashi hesitou, por um instante pareceu querer me dizer algo e realmente me dar uma lição de moral( e eu sentia que se ela fizesse essa tentativa teria sucesso). Depois de alguns segundo ela apenas calou-se, agradando um cão que fora a agradar.


–Esqueça, seu idiota. Agradeço a ajuda-Falou jogando-me um pequeno saquinho preto.- Tome, dê isso a sua mãe em agradecimento pelos pães, qualquer dia passo de lá para cumprimenta-la.


–Ok.-Respondi seco. - Onde deixo essas coisas?- Apontei para os baldes e toalhas.


–Largue ai, já volto para pegar. Tranque o portão com a trava quando sair.


  Bufei um tanto cansado, retirei-me dali pisando mais firme do que era de costume. Por que ela tinha que tocar naquele assunto? O que será que ela não quis me dizer? Será que ela sabia de algo que eu não tinha conhecimento?


  Mais e mais perguntas me rondavam, e como sempre elas provinham do mesmo motivo. Nezumi.


  Voltei a biblioteca antes do que eu esperava, Hikiga havia bagunçado todas as prateleiras a procura de alguns exemplares, o que deixava claro que teria de arruma-las novamente.
  Coloquei um avental na cintura e pus-me a limpar e organizar os livros. A biblioteca estava consideravelmente cheia naquele dia. Muitas crianças que ouviam minhas histórias foram lá para me pedirem dicas de livros e isso me distraiu bastante.
O dia passou antes do que eu podia imaginar.


–Shion.-Chamou Rikiga colocando seu chapéu.


–Sim?


–Já são cinco para as seis da tarde, vamos fechar por hoje.


–Oh, perdi a noção do tempo.- Respondi fechando um exemplar de Hamlet. Voltei o livro em seu devido lugar e retirei o avental, guardando o espanador e me olhando rapidamente no espelho. Respirei de forma pesada.


–Você está bem?- A pergunta veio da porta já aberta.


–Sim, eu to sim.-Respondi forçando um sorriso e me retirando dali.


  Voltei para casa com as lojas já fechando, passei em uma conveniência pegando um refrigerante qualquer, sentei-me em um banco da praça e procurei pelos bolsos da calça meu celular.


  Os celulares, ou melhor, todos os meios de comunicação já haviam sido restaurados, e um grupo de apoio criado dentro da No.6 por alguns alunos da escola técnica tinha distribuído a todos os moradores pequenos aparelhos que faziam a função de celular e comunicação via rede.
Apertei o pequeno botão esperando mamãe atender, recostei-me no banco olhando o sol se por lentamente.


–Olá querido, tudo bem?- Perguntou com a voz de sempre me fazendo sorrir. O timbre suave me trazia conforto.


– Oi mamãe. Eu estou bem, sai do serviço a pouco, quer que compre algo?


–Não querido não precisa, temos tudo que precisamos hoje. Você já está voltando?


–Já sim mamãe, mas antes quero ir a um lugar, tudo bem se me atrasar um pouco?


–Tudo bem, só não chegue muito tarde, sim?


–Certo, tranque tudo, logo estarei em casa.-Falei ouvindo um cuide-se do outro lado da linha e desliguei.


 Joguei a lata já vazia no lixo e caminhei por alguns bairros menos iluminados até chegar onde eu queria. Em certa área do outro lado dos escombros do muro da cidade, havia se formado um imenso jardim natural, onde as flores naquela época estavam completamente abertas, o verde que se via era pouco perto do mesclado entre branco e roxo que as flores causavam.


 Caminhei para um pouco mais perto do campo, chegando até uma parte mais fechada da vegetação. Lá eu me joguei de costas no chão olhando o céu escurecer devagar.
Eu havia descoberto aquele lugar a pouco mais de quatro meses, e era mais uma coisa que me trazia muita paz.
 Respirei o ar perfumado das flores levando um dos braços até cobrir os olhos.

 Por mais que eu quisesse não pensar... Por mais que eu quisesse tentar esquecer o que havia acontecido a anos atrás, ou até mesmo a conversa de hoje com Inukashi, eu não conseguia.

 Era doloroso...


 Por que depois de tudo aquilo ele foi embora? Será que vali pouco ou será que lhe fiz tão mal assim sem perceber? Ou... Será que eu era o problema de tudo aquilo? Afinal ele não disse que não queria me ver mudar? Será que foi embora por medo de que eu mudasse tanto a ponto de virar um psicopata, ou sei lá?


 Ri, um riso triste diante de pensamentos tão absurdos, não era obvio que ele apenas havia decidido não carregar um fardo? Não estava na cara que o que ele fez foi covardia? Que ele fugiu e nada mais, arranjando uma desculpa que na hora pareceu plausivel apenas pela situação que nos encontrávamos?


 Cerrei os punhos e trinquei os dentes praticamente rosnando comigo mesmo.


–O mais absurdo disso tudo... É que eu ainda consigo chorar por algo e por alguém assim.- Sussurrei para que apenas eu mesmo pudesse ouvir. O vento soprou forte, fazendo com que eu sentisse minhas lágrimas ficarem geladas sob a pele.


 Estiquei meu braço em direção ao céu, soluçando e fechando os olhos em seguida.


 Por que eu não podia apenas tirar tudo aquilo da memória?


 Fui tirado de meus pensamentos com um ruído vindo de trás de mim, levantei-me assustado olhando para trás, mas não havia nada além de um monte de pedras.


 Por um momento além do susto, mesmo eu querendo negar isso com todas as minhas forças... Aquele ruído também me trouxe uma pontada de esperança. A mesma esperança que eu tinha ao ouvir uma porta sendo aberta, ou meu nome sendo chamado...


 A esperança de vê-lo de novo.


Feita por Sohari 

 Seja muito bem vinda a nossa família So-chan.
 Boa leitura. 

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