domingo, 12 de outubro de 2014

Hold My Hand

CAPITULO 3 -  Obrigado, Nezumi


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Eu não tinha palavras, nenhuma se quer... Para ser sincero eu mal conseguia respirar.

  Nezumi continuava parado a minha frente, as mãos enfiadas nos bolsos como era de costume antigamente, as roupas e os cabelos encharcados com a chuva forte e um meio sorriso indecifrável nos lábios.

  Meu corpo todo tremia, minha visão se tornava mais e mais embaçada devido as lágrimas que teimavam em se formar. Agarrei meus próprios braços, afastando-me mais dele.



– Não vai responder, Shion? Não me reconhece ou o que?- Perguntou em um tom quase rude, fazendo-me apertar as mãos em volta do pano de minha camisa.


–Por que...- Disse só me dando conta quando já havia começado a falar.- Por que voltou?...- Minha pergunta fez com que seus olhos demonstrassem um ar de angustia... Ou seria culpa?


Nezumi ficou quieto, aproximou-se devagar, tentei recuar mas nenhum músculo de meu corpo se moveu.
  Os olhos dele me analisavam milimetricamente... O mesmo olhar pesado que me era lançado antigamente.


Abri a boca com a intenção de xinga-lo, as palavras me vieram a garganta mais simplesmente pararam! Como?! Era isso que eu queria, não?!


–Você continua o mesmo.- As palavras pegaram-me de surpresa. Encolhi um pouco os ombros... Eu me sentia fraco.


Nezumi levou uma das mãos em meu rosto lentamente, encostando sua pele na minha, passando um de seus dedos sobre a marca em meu rosto.


–Shion...- O tom de voz era tão baixo perto do vento forte e da tempestade, que quase nem parecia o mesmo tom de voz que ele tinha antes.


Por um momento acho que parei de tentar fugir...

Eu realmente queria saber o motivo de sua volta, por que só agora, por que depois de tanto tempo... Por que depois de tudo?
   Eu não queria admitir de jeito nenhum, lutava contra mim mesmo mas algo na presença dele me trazia paz... O fato de vê-lo novamente fez com que naquele instante eu quisesse abraça-lo...


–Shion...

A voz chamou minha atenção, aos poucos eu voltei a enxergar tudo nitidamente, o som do ambiente ficava claro novamente e uma pontada em minha cabeça trouxe flashes que eu não esperava.
O Distrito Oeste, a morte daquelas pessoas, o governo, minha mãe, Safu, Nezumi sendo baleado... Eu atirei em alguém, não?... Eu...

Afastei-me com um pulo de seu toque, Nezumi ficou sem entender nada, tentando aproximar-se novamente, mas antes que conseguisse eu corri, corri em direção ao centro sem se quer olhar para trás, ouvindo apenas meu nome ser gritado ao longe.

O que eu estava fazendo??!! O que estava acontecendo?

Corria pelas ruas esbarrando em uma ou outra pessoa que ainda andavam por ali com seus guarda-chuvas, minha cabeça doía... Latejava como nunca antes, acho que só agora eu havia me dado conta do que havia acontecido...

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–SHION!!- Gritei tentando segurá-lo sem sucesso.- Merda!- Praguejei levando uma das mãos aos cabelos os agarrando com força.

Por um instante eu realmente achei que encontraria o mesmo Shion de antigamente, o que buscava explicações com total lógica para tudo mas que ainda sim conseguia ser... Doce.

Enganei-me da pior forma.

Em passos mais serenos do que os dele, segui para o centro da cidade na tentativa de achá-lo entre as pessoas. Mesmo que meu orgulho me cutucasse a cada instante eu precisava esclarecer as coisas.


   Depois de alguns minutos de caminhada decidi desistir, a aquela altura Shion já deveria estar em casa, e da forma como fugiu com certeza não ouviria uma palavra do que eu teria a dizer.
Ajeitei o capuz sobre os cabelos molhados e voltei a caminhar, agora mais depressa do que antes. Aos poucos, meus pequenos companheiros apareciam, subindo por minhas roupas e enfiando-se em meus bolsos para proteger-se da chuva que já não era tão forte.
Minha mente dava voltas e mais voltas, existiam tantas coisas para contas a Shion... Havia tanto a ser explicado...


Eu custava a admitir... Custava a aceitar o quanto ele me fazia falta.

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Cheguei em casa entrando rapidamente, sequei o rosto o máximo que pude ao vir minha mãe se aproximar.


–Shion! Deus, você está todo molhado!- Dizia preocupada, indo até um cesto entregando-me uma toalha.- Onde esteve?

–Desculpe Mamãe, meu comunicador deu defeito e eu acabei pegando essa chuva.- Menti da melhor maneira possível, secando os cabelos já seguindo para o quarto.- Me perdoe, estou com um pouco de dor de cabeça, vou tomar um banho quente e me deitar, tudo bem?- falei acalmando-a.

–Tudo bem meu filho- Mamãe assentiu, entregando-me mais uma toalha.- Tome um banho, troque de roupa, deixarei no seu quarto um pouco de comida e remédio também tudo bem?

–Sim, obrigado mamãe- Agradeci forçando um sorriso e subi as escadas, mas algo fez-me parar.

–Shion?

–Sim, mãe?

–Você me parece diferente... Estranho... Andou chorando? Está nervoso...

–Hã? Ah, não mamãe, claro que não, só estou com dor mesmo e com frio.

–Bom, tudo bem então, vá logo meu filho.


Assenti sem responder, sorri e segui para meu quarto.

Eu odiava mentir para minha mãe, mas eu não sabia o que fazer.
Peguei a primeira peça de roupa que vi na frente e fui para o banheiro, me despi e entrei na água quente. Aos poucos senti meu corpo relaxar, encostei-me no azulejo frio e escorreguei até sentar no chão do box.

Por que ele havia voltado?... Por quê?...


Flash back on.-----


Nezumi chegou em casa sério, sem ao menos dizer uma palavra.


–Onde estava?-Perguntei enquanto ele retirava sua capa e a jaqueta.- Estava fazendo algo em relação ao homem da foto?

–Para de encher meu saco.- Ríspido, respondeu-me deitando na cama.

Suspirei sem jeito... Era típico o mau humor e as respostas grossas, mas não daquele jeito.


–Mas... Eu quero saber.

–Saber o quê?

–Sobre você...- Nezumi olhou-me por cima do ombro, e eu continuei.- Quero saber mais sobre você.- Era verdade...


Sua expressão foi de incomodo, Nezumi levantou-se, se aproximando de mim.


–Se tem algo de incomodando, eu quero saber!


Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele agarrou uma de minhas mãos e a levou até seu peito, colocando-a sobre seu coração.


–O que está sentindo?

–As batidas... Do seu coração- Respondi sem entender.

–Isso mesmo. Estou vivo. Estou bem aqui. Isso já deve ser o suficiente!- Rosnou largando minha mão de forma grossa, afastando-se de mim. - Shion, você e eu somos estranhos. Estranhos não precisam saber dos segredos um do outro.

–Mas por quê?- Perguntei um tanto indignado.

–Nós nos apegaríamos um ao outro. Deixaríamos de ser estranhos. Você não quer que isso aconteça, quer?


Flash back off----


Dei um soco no chão com toda força que me restava, as lágrimas vinham em grande quantidade, fazendo com que eu soluçasse e escondesse o rosto entre dos joelhos.


–Seria melhor se eu tivesse te ouvido... Seria melhor se tivéssemos continuado sendo estranhos...- Sussurrei a mim mesmo, levando as mãos ao rosto.


Eu queria que tudo fosse diferente...

No fim... eu queria que tudo fosse diferente, mas ainda sim igual...

"- Quero viver aqui fora.
–Por que motivo?
–Me sinto atraído por você."

Diferente nas partes ruins... Na separação, no apuro... Mas igual no sentimento.

Terminei o banho, me vesti de qualquer jeito e fui para o quarto, ao entrar pude ver uma bandeja com algumas coisas para comer e um pote com os remédios que mamãe havia dito antes.
Sem fome e sabendo que minha dor não era causada por fatores naturais, deitei-me na cama, olhando para a janela. Eu queria uma saída para aquilo tudo, queria parar de sofrer, de me perguntar o por quê...
As imagens de antigamente ainda me vinham a mente com clareza... Podia lembrar com nitidez do sangue... das explosões...Nezumi quase morto...
Vencido pelo cansaço, apaguei a luz, e sem conseguir cessar minhas lágrimas fechei meus olhos, acreditando ver ao longe, uma silhueta conhecida velando meu sono...

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O dia pareceu amanhecer mais rápido do que nunca, acordei como se nem ao menos tivesse dormido, meu corpo estava cansado, as olheiras denunciavam minha noite mal dormida e conturbada.
Depois de fazer minhas necessidades e me trocar, desci para o café.Mamãe estava disposta naquela manhã, mas acredito tê-la preocupada ao aparecer com aquela cara.


–Shion meu filho, tudo bem?- Perguntou vindo até mim.

–Sim mamãe- Espirrei. Sem graça, levei uma das mãos a cabeça coloquei a bandeja da noite anterior sobre a pia e sentei-me para o café.- Bom, não tão bem, acho que peguei um resfriado.

–Ah Shion.- Disse com um ar de reprovação, levando uma das mãos a minha testa.- Você parece estar com febre...Quero que descanse hoje , sim?

–Mas mãe, havíamos combinado de ir ao teatro, e eu ia te ajudar com os afazeres por aqui.

–Filho, aceitarei sua ajuda nas coisas mais simples então tudo bem? Mas você irá descansar.


Um tanto contrariado, assenti um sim com a cabeça e continuamos nosso café. Como de costume conversávamos sobre tudo, mamãe questionou sobre o dia anterior, e eu obviamente menti, coisa que parece tê-la deixado mais confortável.
Tudo corria bem, recolhemos a mesa e enquanto lavávamos a louça, fui até a varanda pendurar alguns panos. Ao longe, parecendo ser na loja, ouvi uma conversa. Mamãe abria a padaria até as 11 aos domingos, então acreditava eu que era algum cliente.
Entrei colocando as embalagens descartáveis em ordem e segui para a loja.
Péssima ideia.


–Mamãe aqui estã-- Perdi a fala ao ver a cena.

–Oh, Shion venha aqui.- Chamou voltando-se para o rapaz a sua frente.- Eu lhe agradeço pela ajuda senh-

–Nezumi...- Sussurrei para mim mesmo, mas pelo que parece, chamei a atenção de todos os presentes.

–Nezumi?!- Minha mãe perguntou levando uma das mãos a boca, não acreditando no que estava ouvindo.


   A sala ficou em silêncio por alguns instantes, nos entreolhamos desconcertados, até que finalmente o silêncio foi quebrado. Minha mãe começou a chorar, puxei uma cadeira para que ela se sentasse e me mantive quieto, apenas encarando Nezumi que fazia o mesmo.
Mamãe segurou uma das mãos de Nezumi fazendo com que ele se aproximasse sem entender muito bem o que estava acontecendo.


–Mamãe, tudo bem?- Perguntei, vendo-a assentir um sim com a cabeça.

–É melhor eu ir.- Nezumi disse, fazendo-me concordar com ele, mas antes que ele se retirasse mamãe o deteve.

–Obrigada...


A expressão dele, antes desconfortável pareceu amolecer...

Minha mãe ficou em pé a sua frente, levou uma de suas mãos ao rosto dele e depois o abraçou.

–Obrigada Nezumi... Obrigada...


Por um instante o incomodo que eu estava sentindo passou... E em seu lugar veio um sentimento de gratidão.

Minha mãe estava feliz em vê-lo... Feliz em agradecer a pessoa que tanto a confortou quando eu sumi.


–Não foi nada.- Respondeu simples, com um leve sorriso nos lábios.


Obrigado, Nezumi.

Feita por Sohari
Arigato So-chan.

Boa leitura.

4 comentários:

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